Relatório Vindima 2016

2016-11-11

Um ano com um ritmo especial
 
Este ano foi muito importante ter um conhecimento profundo das vinhas; cada parcela e cada casta evoluíram ao seu próprio ritmo, o que exigiu um acompanhamento de perto e constante por parte dos enólogos. Decidir a data da vindima com base num palpite ou a seguir o que outros faziam, não foi uma boa escolha neste ano atípico. Quem soube aliar a um profundo conhecimento da vinha muita paciência, foi recompensado com alguns Vinhos do Porto e Douro DOC de grande qualidade.
 
O ano vitícola começou de uma forma positiva com um Inverno chuvoso que trouxe, comparativamente ao Inverno do ano anterior, o dobro da chuva e cerca de 80 mm adicionais face à média dos últimos 30 anos. As temperaturas superiores ao habitual avançaram o ciclo vegetativo em cerca de 10 dias na maior parte da região. Contudo, alguns desafios apareceram quando o tempo chuvoso se prolongou por Abril e Maio, com níveis de precipitação três vezes acima da média para este período. Os habitantes locais foram surpreendidos com cheias pouco habituais em plena Primavera o que comprometeu a navegabilidade do rio, deixando em terra milhares de turistas que não chegaram a embarcar nos barcos cruzeiro do vale do Douro.
 
Com a chuva e o frio que se sentiram em Abril e Maio, tornou-se indispensável trabalhar intensivamente para proteger as vinhas. O Douro não está bem preparado para encarar estes desafios, dada a dificuldade de trabalhar vinhas muito escarpadas e pela distribuição de terrenos, muito fragmentada. Esta é a maior área de vinha de montanha do mundo e tem 17,000 agricultores com parcelas que não atingem um hectare. Muitos deles são idosos e não dispõem de tempo nem de recursos para tomarem as medidas necessárias para proteger as vinhas nestas condições e estima-se que este ano e por estas razões o Douro tenha uma quebra de produção de vinho no mínimo de 25% face a um ano normal. Os que conseguiram tratar das suas vinhas neste período foram recompensados com uvas saudáveis, embora o ano fresco tivesse atrasado o ciclo da vinha.
 
Junho e Julho marcaram o regresso do tempo mais típico para a época, mas o mês de Agosto teve grandes vagas de calor que voltaram a abrandar o ciclo de maturação, colocando a vinha sob grande esforço. A miraculosa, rara e muito desejada chuva de Agosto caiu nos dias 24 e 26, de forma bastante localizada e ausente, por exemplo, no vale do Pinhão. No entanto a precipitação fez a diferença nos Malvedos (18 mm), Vesúvio (7 mm) e no Ataíde (12 mm), precisamente nas vinhas em que fazia mais falta.
 
O mês de Setembro começou com uma vaga de calor intenso, tendo sido registada uma máxima de 43°C no dia 6 na Quinta do Bomfim. Este ano notou-se um grande aumento do turismo no Douro e por esta altura podíamos ver visitantes à procura de raros locais com ar condicionado, misturando-se com os lavradores locais visivelmente preocupados nos cafés do Pinhão, São João da Pesqueira e Tua. O stress nas vinhas mais novas, com sistemas radiculares menos desenvolvidos, era evidente. Contudo, as vinhas mais velhas estavam bem defendidas, apresentando uma folhagem viçosa e fruto saudável; as suas raízes conseguiam aceder à água armazenada no subsolo durante o Inverno e a Primavera muito chuvosos. No entanto as maturações estavam com algum atraso, porque as vinhas ainda estavam a recuperar das condições especiais de 2016, e tornava-se evidente que seria melhor ter uma vindima tardia para permitir que a vinha completasse o ciclo de maturação. Qualquer decisão precipitada para antecipar a vindima, por parte de quem que não estivesse verdadeiramente a par do que se passava na vinha, após semanas de intenso calor, equivaleria a desperdiçar uma oportunidade de ouro.
 
A partir do dia 7 de Setembro as altas temperaturas começaram a abrandar e, após semanas de controlo rigoroso na vinha, através de modernos métodos analíticos e também o infalível método tradicional da prova dos bagos na vinha, Charles Symington marcou a data de arranque de vindima para dia 15, nas nossas quintas mais a montante, e dia 19 para as restantes propriedades. Nos dias 12 e 13 choveu por toda a região, registando-se na Quinta da Cavadinha 18 mm, no Bomfim 16 mm, nos Malvedos 20 mm, nos Canais 15 mm, no Vesúvio 13 mm e na Quinta do Ataíde 13 mm. O Charles decidiu suspender a apanha das melhores castas, enviando as rogas temporariamente para casa, ou transferindo-as para as vinhas mais novas ou castas menos valorizadas. Depois desta chuva oportuna e assim que as vinhas reencontraram novamente o seu equilíbrio ideal, a vindima recomeçou no dia 19. O Charles tomou mais uma decisão importante adiando de 22 para 26 de Setembro a colheita da Touriga Nacional, para que esta casta atingisse a maturação ideal. Desde então a vindima prosseguiu com tempo perfeito e noites frescas. É raro estarmos a finalizar uma vindima no Douro na semana de 10 de Outubro, após 4 semanas de condições perfeitas sob céu limpo.
 
Dadas as condições especiais deste ano as vinhas seguiram o seu próprio ritmo e tornou-se imprescindível compreender a evolução das mesmas presencialmente, no seguimento do verão quente. Não há duvida que este ano as vinhas demoraram mais tempo a atingir o equilíbrio desejado e que este conhecimento só se atinge graças a muitas horas de análise cuidada na vinha. Basta observar os lagares de Touriga Nacional, de Touriga Franca e de misturas de castas tradicionais do Douro, ainda a terminarem as fermentações, para se conseguirem prever os resultados excecionais alcançados pelos que trabalharam arduamente e tiveram a paciência necessária.
 
Paul Symington
 
12-10-16
 
Charles Symington, Pinhão, segunda-feira dia 10 de Outubro
 
“O tempo ao longo da vindima esteve excecionalmente bom, o que possibilitou o desenrolar perfeito das maturações. Foi possível decidir os momentos de vindimar sem nos preocuparmos com alterações climatéricas e suspendemos a vindima, quando necessário e em diferentes propriedades, dando tempo às vinhas para atingirem o estado de maturação ideal. Os lagares mostram Baumés muito equilibrados e cor excecional, e a Touriga Franca poderá ter produzido os melhores vinhos desta vindima. Os vinhos apresentam grande frescura e elegância, tal como estrutura.”

 

Publicado em 2016-11-11
© Symington Family Estates

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