Relatório de Vindima 2025 - Quase à Beira do Precipício

Symington Family Estates - 2025-10-23

Relatório de Vindima 2025 - Quase à Beira do Precipício

Após o ciclo vegetativo mais moderado de 2024 e o regresso do que, na altura, descrevemos como uma vindima “à antiga” no Douro — com condições mais típicas —2025 voltou a pôr à prova a resiliência das nossas vinhas. Quando começámos a vindimar as primeiras uvas nos últimos dias de agosto, havia muita preocupação de que a prolongada seca de verão e a vaga de calor severa no início do mês pudessem comprometer o evoluir das maturações. Contudo, o que começou como um dos anos mais desafiantes, na nossa memória recente, terminou da melhor forma, com vinhos de excelente qualidade e equilíbrio.

Uma estação de extremos

No final de agosto, o Douro apresentava um défice de precipitação de 35%, após três meses de seca, agravada por vagas de calor sucessivas — a última, no início de agosto, foi a mais severa. Durante dez dias consecutivos, as temperaturas máximas ultrapassaram os 40 °C em várias das nossas estações meteorológicas, superando mesmo a duração da vaga de calor semelhante de 2003. Embora as condições no Alentejo e no Minho tenham sido menos intensas, ambas as regiões também enfrentaram um verão particularmente seco.

A precipitação no inverno foi razoável, garantindo boas reservas de humidade no solo, apesar de períodos invulgarmente secos em dezembro e fevereiro. Março foi fresco e muito chuvoso, contribuindo para as boas reservas de água no subsolo que mais tarde se revelariam cruciais. A floração começou a 19 de maio — cerca de dez dias mais tarde do que a média — e o pintor iniciou-se a meio de julho, com a Touriga Franca a seguir o calendário habitual e a Touriga Nacional cerca de uma semana atrasada. Este ciclo mais tardio acabou por ser uma vantagem: quando o calor intenso de agosto chegou, as vinhas encontravam-se numa fase menos vulnerável do ciclo de maturação.

Momento de reviravolta

A partir de meados de agosto, o tempo mudou de forma dramática. As temperaturas foram gradualmente diminuindo e, no final do mês, os dias e, sobretudo, as noites tornaram-se visivelmente mais frescos — um padrão que se manteve ao longo de setembro. Este seria o ponto de viragem crítico da vindima. Os dias mais amenos e, em particular, as noites frescas — uma característica distintiva
deste ano — proporcionaram condições perfeitas para maturações completas e equilibradas. Apesar da falta de chuva, as maturações evoluíram de forma ideal, com uvas a revelarem bom equilíbrio entre açúcares e acidez, e as vinhas a mostrarem poucos sinais de stress hídrico — certamente graças às reservas de água acumuladas na primeira metade do ciclo.

Começámos a vindimar as uvas brancas no Douro a 26 de agosto, seguindo-se as primeiras tintas poucos dias depois. As vinhas apresentavam-se em surpreendente bom estado, com canópias
saudáveis e desidratação reduzida. À medida que a vindima avançava por setembro, o otimismo crescia — as fermentações revelavam cor vibrante, boa concentração, graduações ideais e excelente
definição aromática.

Uma vindima breve, mas surpreendentemente boa no Douro

Esta foi uma das vindimas mais curtas dos últimos 40 anos e, certamente, das mais breves na minha carreira como enólogo. O calor e a seca reduziram inevitavelmente as produções — cerca de 30%
abaixo da média nas nossas propriedades e até 50% em algumas castas brancas. Na Quinta do Sol, a produção foi a mais baixa desde a década de 1990, e a adega esteve aberta pouco mais de um mês. A nossa adega DOC na Quinta do Ataíde operou apenas três semanas, com uma quebra de produção de 26% face a 2024, mas os vinhos mostraram grande pureza e frescura.

As baixas produções permitiram uma madurez excecional e uma qualidade notável. Não obstante a seca estival, havendo menos fruto na vinha, as reservas de água disponíveis revelaram-se suficientes. Além disso, o período ininterrupto de tempo seco e com céu limpo durante toda a vindima, deu-nos total margem de manobra para escolher os momentos mais indicados para vindimar cada parcela, cada casta — sem a pressão que as condições instáveis frequentemente impõem.

A vindima de uvas tintas começou nas nossas quintas do Douro Superior na primeira semana de setembro — inicialmente na Senhora da Ribeira e na Telhada, seguidas pela do Vesúvio na segunda semana. Os lagares apresentaram leituras Baumé ideais de 14° e mostraram excelente cor e concentração. Prosseguimos, a seguir, para as quintas do Cima Corgo — Bomfim, Cavadinha e Malvedos — onde as uvas (Tinta Barroca, Alicante Bouschet e Sousão) também revelaram maturação fenólica ideal e muito boa acidez.

À medida que nos aproximávamos da reta final, mal podíamos acreditar na nossa boa fortuna: tanto a Touriga Nacional como a Touriga Franca atingiram maturações perfeitas. Na última semana de setembro, colheu-se a restante Touriga Franca, com leituras de grau Baumé entre 14 e 14,5°, concentrações ideais e surpreendentemente pouca desidratação.

O que começou como um ano difícil, culminou numa vindima de exceção no Douro, com a Touriga Nacional e a Franca a alcançarem qualidade notável. As castas autóctones do Douro voltaram a demonstrar a sua incrível capacidade de adaptação a condições extremas, originando vinhos concentrados e equilibrados, apesar de um dos verões mais secos dos anos recentes.

Portalegre | Alentejo – Quinta da Fonte Souto

A precipitação no Alentejo foi inferior à de 2023 e 2024, embora as chuvas de inverno e primavera tenham assegurado boas reservas hídricas. As temperaturas estivais foram superiores à média, mas menos severas do que no Douro, com a altitude da vinha de Fonte Souto a ter um papel importante. Pela primeira vez, vindimámos algumas parcelas de castas brancas durante a noite para preservar a frescura — e os resultados foram excelentes.

Apesar dos bagos e cachos mais pequenos (ou talvez por isso), as uvas atingiram plena madurez, com equilíbrio notável. Os brancos apresentam muito boa acidez, frescura e precisão aromática; os tintos são estruturados, com taninos maduros e cor intensa. 2025 produziu mais um conjunto de vinhos muito bons na Fonte Souto, brancos e tintos, com perfis vivos e com promissor potencial de envelhecimento.

Monção e Melgaço | Vinho Verde – Casa de Rodas

Esta foi a nossa terceira vindima na Casa de Rodas, a nossa vinha 100% Alvarinho na sub-região de Monção e Melgaço, na região dos Vinhos Verdes. À medida que prossegue o trabalho de replantação de algumas parcelas, as produções foram modestas e a vindima muito breve — durando apenas três dias. As condições climáticas foram bastante mais amenas do que no Douro, permitindo um ciclo de maturação regular e a produção de vinhos elegantes e frescos, fiéis à casta Alvarinho.

Um ano de resiliência e recompensa

Do limiar de um verão difícil, onde muito podia ter corrido mal, a vindima de 2025 emergiu como um exemplo de resiliência e recompensa. A gestão cuidadosa da vinha, as baixas produções e a viragem crucial do tempo no final do ciclo, conjugaram-se para produzir vinhos de excelente estrutura, frescura e intensidade. Nas três regiões, os resultados refletem os pontos fortes das nossas vinhas, das nossas equipas e a duradoura capacidade de adaptação das nossas castas autóctones.

Charles Symington · Enólogo-Chefe e Diretor de Produção | Quinta do Bomfim, 22 de outubro de 2025

Text by Symington Family Estates · Publicado em 2025-10-23
© Symington Family Estates

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